Quais são as Escolas Buddhistas Tradicionais?

Um dos aspectos mais fascinantes do Buddhismo é o de não se apresentar como um bloco monolítico, mas sim por meio de uma variedade de manifestações em termos de exegese e práxis, as quais surgiram no decorrer dos tempos. A partir de diferentes comunidades monásticas surgiram diferentes formas de ver e praticar o ensinamento do mestre único, o Buddha. A esses diferentes conjuntos de doutrina, código monástico e exercícios práticos foi dado o nome de "escolas", conjuntos coerentes que se estabeleceram ao longo dos séculos.

Há um número muito grande de escolas tradicionais, mas de um modo geral podemos dividi-las em quatro grandes blocos, nos quais escolas menores se encaixam com maior ou menor precisão. A Escola Theravada é a mais antiga escola buddhista existente ainda hoje e a que mais preserva a forma em que os ensinamentos eram transmitidos e o como a comunidade monástica vivia desde os tempos do Buddha. Ela mantém um cânon na língua pali e está espalhada pelo Sudeste Asiático (Myanmar [Birmânia], Thailândia, Laos e Camboja) e Sri Lanka. A Escola da Terra Pura é a escola mais popular na China e no Extremo Oriente, possuindo uma linguagem propositadamente simples e mítica que encobre sua doutrina filosófica, e com a qual alcança mais facilmente as pessoas. Seu cânon original é em sânscrito, mas traduzido para as línguas locais. Está presente na China, Coréia, Japão e Vietnam. O Escola Zen compartilha da mesma área de expansão da Escola da Terra Pura, e em certos países há mesmo uma convergência de ambas num mesmo mosteiro ou instituição. Fortemente meditativa, a Escola Zen é famosa por fazer uso de métodos alternativos ao simples estudo e meditação.

A Escola Tântrica, característica do Tibete, Mongólia, Indonésia e em certa medida também presente no Japão, é a mais recente de todas. Incorporando elementos típicos do Xamanismo, faz uso acentuado dos mantras, visualizações e da fé no mestre como métodos característicos de sua proposta de prática. Todas elas desde o último século têm se expandido admiravelmente bem por todo o Ocidente.

Por trás da imensa diversidade de percepções e práticas, entretanto, um núcleo comum une todas as escolas tradicionais. Nas palavras do Venerável Walpola Rahula:

  • Aceitam Buddha Sakyamuni como Mestre.
  • As Quatro Nobres Verdades são exatamente as mesmas.
  • O Caminho Óctuplo é exatamente o mesmo.
  • A Originação Dependente (Paticca-samuppada) é a mesma.
  • Não consideram a idéia de um ser supremo, criador e dirigente deste mundo.
  • Aceitam Anicca, Dukkha, Anatta, Sila, Samadhi, Panna sem qualquer diferença de conteúdo.

O que é o Buddhismo?

Buddhismo é a religião fundada pelos discípulos de Siddharta Gautama, o Buddha, baseado nos ensinamentos filosóficos proferidos por este durante sua vida. A doutrina do Buddhismo foi sistematizada a partir dos Concílios buddhistas nos quais os discursos proferidos pelo Buddha foram transcritos e sistematizados. A liturgia buddhista foi criada naturalmente a partir das escolas e tradições que se criaram ao longo dos anos.

A base da filosofia da religião buddhista está contida no Tripitaka (Três Cestos) - Sutra-pitaka (que contém os discursos de Buddha); Vinaya-pitaka (que contém os preceitos que regem a vida dos monges e monjas); e Abhidharma-pitaka (que contém os comentários de vários eruditos buddhistas sobre a filosofia buddhista), e que são diferentes em diversas escolas. Nos sutras estão contidos vários conceitos que dão sustentação à doutrina buddhista e as principais são:

Três Jóias: Buddha, Dharma (Ensinamentos) e Sangha (Comunidade buddhista);

O Princípio da Co-produção Condicionada dos Fenômenos (Pratitya samutpada), que é o alicerce de todo o Buddhismo: as Quatro Nobres Verdades, apresentadas abaixo, são uma aplicação particular desse princípio geral.

- As Quatro Nobres Verdades:

1a. Nobre Verdade - Dukkha - A vida é desequilibrada, fora de prumo, desarmônica;
2a. Nobre Verdade - Samudaya - a causa deste desequilíbrio são os Três Venenos Mentais (a ira, a cobiça e a ignorância);
3a. Nobre Verdade - Nirodha - o equilíbrio pode ser restaurado;
 4a. Nobre Verdade - Margha - o equilíbrio da vida pode ser atingido seguindo-se o Caminho do Meio (ou Caminho Óctuplo).

- Caminho do Meio - Visão Correta, Pensamento Correto, Fala Correta, Ação Correta, Meio de Vida Correto, Esforço Correto, Atenção Correta e Meditação Correta.

Segundo pesquisa da Harvard Divinity School, atualmente existem por volta de 300 milhões de buddhistas no mundo, sendo que no Brasil não há dados confiáveis de nenhum órgão oficial sobre a distribuição demográfica das religiões de nosso país. Contudo alguns pesquisadores estimam em 1 milhão de pessoas que sigam os ensinamentos de Buddha no Brasil, embora estes dados não tenham sido colhidos com embasamento científico. 
(Segundo pesquisa recentes (2006/7) 17% das pessoas, segundo o IBOPE, manifestam ser simpatizantes do buddhismo. O IBGE aponta menos de 300. 000 auto-declarantes)

O que é Dharma segundo o Buddhismo?

Podemos considerar o Dharma como o conceito mais importante no escopo de ensinamentos de Buddha, através do qual toda a sabedoria implícita na prática buddhista será apreendida. Na tradição Buddhista devemos considerar dois contextos fundamentais para o termo sânscrito "Dharma":

A. Em sua definição primordial, o Dharma seria a "Lei ou o modo como as coisas são", que também inclui aspectos éticos, significando a própria doutrina de Buddha em suas cruciais argumentações e conclusões, por ele mesmo apresentada logo após sua experiência de Iluminação. A proposta de Buddha seria expor um conjunto de premissas que representariam uma verdade universal - que não deve ser confundida com uma verdade única e especial, exclusiva do buddhismo -- e humanista, ou seja, um ensinamento tão coerente e bem fundamentado que se manifesta na existência todo o tempo, plenamente, e pode ser acessado por todos os seres sem distinção.

B. Em um segundo contexto, temos os "dharmas", ou o conjunto de fenômenos e ações que pavimentam o caminho do praticante, e que podem resultar na descoberta de verdades menores mas engrandecedoras. Neste contexto o próprio Dharma, ou Lei, se espraia em diversos aspectos da existência e torna-se plural na medida que, ao longo da vida, o praticante sempre irá se defrontar com as várias facetas da Verdade Universal manifestadas em pequenas e grandes descobertas íntimas e pessoais.

O Dharma de Buddha ensina que o fundamento de nossa insatisfação está na ignorância (desconhecimento ou "anuviamento" perceptivo) sobre a correta natureza das coisas e de nós mesmos; que será através da superação desta ignorância que lograremos superar os atos, sentimentos e pensamentos insalubres que nos levam ao exercício do ódio, ambição egoísta e ilusão; e que a prática do Caminho do Meio (o conjunto de ações contemplativas saudáveis passíveis de experimentação através da prática da Meditação de Plena Consciência à Respiração– "Anapanasati" – e outras práticas tradicionais do Buddhismo) é um meio seguro de nos conduzir à liberdade mental, e enfim ao estado de Buddha.

É preciso frisar que o Dharma, como uma lei básica buddhista, não se contrapõe ao Karma. Ambos os termos são expressões de conceitos distintos, ainda que complementares. Portanto, a crença de que estes seriam opostos entre si, e que deveríamos de alguma forma "fazer" mais dharma e menos karma é de todo incorreta, fruto de um moderno equívoco interpretativo.

O que significa o termo "Três Jóias"?

As chamadas "Três Jóias do Buddhismo" * (ou também "Tríplice Tesouro do Buddhismo") se referem ao Buddha (o iluminado), ao Dharma (a Doutrina, Ensinamento) e ao Sangha (a Comunidade).
O Buddha, como mestre e exemplo a ser seguido.

O Dharma, como a Doutrina, o Ensinamento pregado pelo Mestre Iluminado, que foram preservados principalmente através dos "Sutras" os Textos Sagrados do Buddhismo contendo as Palavras do Buddha (uma espécie de Bíblia ou Evangelho do Buddhismo), e devem nortear a vida e a prática de todos os Buddhistas.

O Sangha, em geral pelas escolas sino-japonesas é tido como a comunidade formada pelos mestres e companheiros de senda, que vivem juntos e praticam os mesmos ensinamentos deixados pelo mestre Gautama, o Buddha. Mas é também importante salientar, nas palavras do Professor de Dharma Ricardo Sasaki que "para o Theravada a Sangha não é a comunidade de pessoas nem mesmo a de professores e mestres. Dois tipos de sangha são mencionados: bhikkhusangha, que é aquela dos monges (bhikkhunisangha - a das monjas) e ariyasangha. Aquela sangha em que se toma refúgio (e portanto constitui as 3 jóias) no Theravada é a Ariyasangha, nunca a dos monges nem muito menos o grupo de companheiros. A Ariyasangha são todos aqueles discípulos do Buddha, através das gerações, que atingiram algum dos quatro estágio de iluminação: sotapanna, sakadagami, anagami ou arahant (ver glossário de termos). Esses quatro estão no caminho certo e sem volta, e assim podem ser um refúgio para os outros seres".

* No Buddhismo, as Três Jóias são um dos pontos fundamentais que marcam a Iniciação (tomada de refúgio) e mesmo a Ordenação Monástica, e nenhuma escola ou ramo buddhista pode se considerar autêntica sem os aceitar como tal.

Por que o Buddhismo fala de "sofrimento"?

Na verdade, o termo sânscrito Duh:kha -- em páli, Dukkha --, freqüentemente traduzido como "sofrimento", deve ser mais corretamente entendido como significando insatisfação ou angústia mental, e não o sofrimento físico em si. Essencialmente o Buddhismo fala de Duh:kha como sendo a conseqüência do processo de ignorância perceptiva, que nos faz agir, sentir e pensar de forma pouco equilibrada e assim provoca em nossas vidas um sem-número de momentos estressantes e insalubres: neste momento estamos alegres, logo após estamos cheios de raiva; agora nos sentimos amorosos, tempos depois sentimos desprezo. Este processo irregular de altos e baixos perceptivos e emocionais cria em nosso íntimo muita angústia e insatisfação, fazendo de nossas vidas um palco de experiências discordantes e decepcionantes, afastando a real felicidade.

Portanto, por "sofrimento" devemos entender o fenômeno da ignorância mental agindo como fator delusório, e nos deixando à mercê de um encadeamento de emoções insalubres e conflitantes, seja em momentos alegres ou tristes. O Buddhismo aponta para o fato de que tal processo, apesar de parecer natural ou pelo menos inevitável, é fruto de uma incapacidade de acessarmos nosso potencial saudável de consciência correta e percepção apurada. Assim, existe uma saída para o jogo de êxtases e agonias que a vida nos apresenta. Através da superação da insatisfação (ou sofrimento) mental, atingimos um estado de auto-regulação saudável e esclarecido, permitindo que a felicidade se instale em nossas mentes e corações.

Qual a relação do Buddhismo com a Reencarnação?

Apesar de a palavra reencarnação ainda ser usada em muitos textos sobre o buddhismo, o termo mais apropriado é 'renascimento', uma vez que no buddhismo não consideramos a existência de uma alma ou espírito destacada do corpo e que toma um novo corpo. No buddhismo é o Karma (o conjunto de impulsos que restam após a morte) que se manifesta novamente, e esta nova manifestação é que gera uma existência que tomando consciência de si mesma assume uma identidade. Esta nova identidade, embora muito semelhante em características a que a antecedeu, não é a mesma pessoa, nem a reencarnação de uma partícula permanente que transita por diferentes corpos. Há continuidade porém não de um EU particular.

Quais são os ensinos básicos do Buddhismo?

Certa vez, perguntaram ao Buddha qual era a essência de seus ensinamentos, e ele respondeu: "Deixar de praticar o mal, praticar o bem e purificar a própria mente. Estes são os ensinamentos de todos os Buddhas". Entretanto, podemos pensar o Buddhismo como um "Caminho de Auto-conhecimento" que possui alguns pontos básicos em sua doutrina que são:

1. A Impermanência de todas as coisas, ou seja, tudo está em constante transformação e nada há no Universo que escape a essa lei.
2. O Não-Eu, ou seja, em nenhuma das coisas ou fenômenos que existem no Universo, podemos encontrar algo que seja permanente e imutável, constituindo assim um "eu" ou uma "alma" eterna e imortal. Tudo é interdependente.
3. O Nirvana, que é o estado final de Serenidade, ou seja, só quando se atinge o despertar interior para a verdade transcendente, superando os estados da impermanência e de não-eu é que podemos despertar e realizar interiormente um estado Não-Condicionado de Ser, um estado de Serenidade e Paz Eterna, com os olhos do coração abertos para contemplar a vida através da Luz da Sabedoria, atingindo assim um estado de unificação e não-dualidade com todas as coisas e seres do Universo.
Assim sendo, Nirvana é um Estado de Ser e não um Paraíso, como muitos querem fazer parecer. E, àquele que atinge esse Estado de Ser, é dado o título de Buddha, o Desperto, o Iluminado.
Gautama, o Buddha histórico disse que aquele que atingisse esse estado, no final da vida se assemelharia a uma vela que simplesmente se extingue por não ter mais combustível para queimar, ou seja, o estado de Extinção Final, restando dele apenas as sementes de seus ensinamentos nos corações de seus seguidores.

Quais são as Escolas Buddhistas Tradicionais?

Um dos aspectos mais fascinantes do Buddhismo é o de não se apresentar como um bloco monolítico, mas sim por meio de uma variedade de manif...